sexta-feira, 11 de julho de 2008

Fora já!

E em 29/03/2000 eu estava lá!

Av. Paulista, centro financeiro de SP, pólo econômico, centralidade cultural e de entretenimento, e palco de grandes manifestações.
Eu estava no 2º ano do colegial e estudava em um colégio composto por curso de magistério integral (CEFAM), magistério meio período e colegial normal. Eu estudava no colegial normal, claro! Apesar de amar crianças, não tenho habilidades e nem ambição em ser professora.
Na época, não era necessário cursar pedagogia para ministrar aulas, bastava o magistério.
Tive a oportunidade de conviver com pessoas muito politizadas, pois ali naquele colégio, além das matérias da grade do magistério, os futuros professores tbm aprendiam os desabores da profissão. Futuros funcionários do governo, tbm se preparavam para incessantes lutas para melhoria na qualidade do ensino público, salários decentes...enfim, tudo aquilo que quem tbm estudou em escola pública, sabe!
Tudo isso era passado aos alunos com muita seriedade e realmente os preparavam para a futura profissão. Era um colégio que tinha seus portões abertos 24 hs, e ficava a critério de cada aluno saber da sua responsabilidade com os estudos.
Nem preciso dizer que muitos não tavam nem ai, né?
Alías, apesar de tanta "seriedade", a maioria era tudo porra-louca mesmo!
Tanto que esse ano de 2000 foi o último ano de colegial normal naquela escola, pois o magistério aprontava todas e sempre caia a culpa nos "normais", a final de contas, quem ia acreditar que futuros professores roubavam a mistura da marmita alheia?
É, pq como lá era integral pro pessoal do CEFAM, tinha uma cozinha e uma "marmiteira" gigante. Ai, ao chegar no colégio, vc depositava seu almoço naquela "geringonça" e tinha acerteza de pontualmente 12hs, seu almoço estar quentinho...isso é, se não roubarem! Eu estudava de manhã e trabalhava de tarde, e muitas vezes usava o marmiteiro do CEFAM. Depois de uma semana inteira almoçando sem mistura, pois os outros alunos meteram a mão, cheguei a conclusão de que era melhor fazer uma forcinha pra almoçar no restaurante ali perto.
Ah, e detalhe: homens só estudavam no colegial normal, no CEFAM só estudava mulher e viado!
Enfim, voltando a parte interessante da história, todos os alunos (magistérios ou não) foram convidados a participar de uma passeata estudantil que aconteceria na Av. Paulista, para o impeachment do então prefeito, Celso Pitta e do então presidente, Fernando Henrique Cardoso, além de reinvidicações contra o FMI.
A prefeitura de São Paulo atravessava um momento muito difícil, onde as greves nas escolas eram constantes. A ex-esposa do Celso Pitta, Sra. Nicéia Pitta, resolveu "por a boca no trombone" e fazer denúncias de corrupção contra ele. Na época, estourou o escândalo dos precatórios. E eu sonhava fazer parte da história política do Brasil, desde os caras pintadas. Apesar de ter apenas 8 anos em 1992, eu lembro perfeitamente o impeachment do Collor! Impossível esquecer, ainda mais com a crise econômica que o Brasil enfrentava.
E fomos a Av. Paulista!
10 hs da manhã todos reunidos no MASP. Uma multidão de estudantes e professores, com suas caras e cartazes pintados com dizeres "FORA FHC", "FORA PITTA", FORA FMI".
Representantes da UNE e UBES lideravam a passeada.
Os gritos ecoavam "FORA JÁ, FORA JÁ DAQUI, O FHC E O FMI"..."O PITTA VAI GANHAR UMA PASSAGEM PRA SAIR DESSE LUGAR..............(o resto vcs sabem)"...e muitas outras músicas que minha memória não me permite lembrar.
Iniciamos o trajeto rumo a Câmara Municipal de São Paulo (Veja notícia da época), no meio do caminho nos informaram que alguns integrantes da UNE e UBES foram detidos por conta da "baderna". Então, todos sentamos no chão da Av. Paulista em protesto a essa atitude.
Instantes depois, não sei se desmentiram ou o que aconteceu, que retomamos nossa caminhada. Entramos na Rua da Consolação, e minha mãe na época trabalhava em um dos prédios dessa avenida. Quando ela saiu na janela, só deu para ver a cara dela de assustada em saber que a filha dela estava lá no meio. Eu via ela, mas ela não me via! rs*
Meu celular (primeiro pré-pago da história, o antigo Baby) começou a tocar incansavelmente, até que eu resolvi atende-lo e avisar minha mamãe que chegaria um pouco mais tarde pois tinha uns assuntos a resolver na Câmara Municipal. Bem que ela tentou me ameaçar se não saisse de lá naquele instante, mas ela chegou a conclusão que não adiantaria.
Chegamos a Câmara Municipal, protestamos, gritamos, cantamos e xingamos...e os efeitos não foram diferentes da nossa atualidade: tomamos bomba, borrachada, bala de borracha...e tudo mais que só a PM sabe fazer, ou melhor, que é realmente só o que eles tem capacidade de fazer.
Enfim, meses depois o Pitta acabou perdendo o cargo, não só por essa manifestação, mas tbm por todos escandalos que estouraram na época. Esse afastamento durou apenas 18 dias, pois o safado entrou com recurso e conseguiu recuperar o mandato.
Mas aquilo foi importante para sentir de perto a importância da mobilização do povo para pleitear por um governo justo!
Apesar de ter sido uma passeada com mais ou menos 3 ou 4 mil pessoas, eu me senti realizada em ter feito o meu papel, de ser mais uma estudante, mais uma voz ali naquele momento.
Sai na capa do Jornal da Tarde no meio da muvuca balançando a bandeira da UNE, quando meus pais viram, acharam que eu ia virar rebelde e logo seria perseguida pelo governo, como na época da ditadura! kkkkkkkkkk Que drama!
Essa história toda foi só pra dizer que, apesar de ter esperado 8 anos, ao ver essa foto eu senti a mesma satisfação que senti na época.


Mesmo sabendo que não durou muito tempo!

2 comentários:

Teka disse...

Caraaaaaaaaaaaaaaca
=)

to indo no dentista, depois escrevo mais.

vc é fodástica, amei :D

Eliana Black disse...

Há uns 15 anos atrás eu tinha a esperança de mudar o mundo, hoje apenas quero que ele seja um pouquinho mais justo e igualitário.

Tbm adorei ver o Pitta algemado.

Ele representa tudo que o meu povo preto não quer...